terça-feira, 15 de agosto de 2017

Meio-dia

"Desde o começo ele levara uma vida sem realização. Não conseguia fazer os outros felizes e, naturalmente, fazer a si mesmo feliz. Para começar, Kino não sabia bem no que consistia a felicidade. Não conseguia perceber claramente as sensações de dor, ira, decepção ou resignação. A única coisa que podia fazer, com muita dificuldade, era encontrar um local a que pudesse se prender, para impedir que o coração, que havia perdido a profundidade e o peso, ficasse perdido a esmo." Homens sem mulheres, Haruki Murakami

Na contramão do sentido, a foto do post não retrata "a fonte".


         Bianca, Bruno, Renato, Jean, Cibele, Fabíola, Anderson e William. Nessa ordem respectivamente. Foram as pessoas envolvidas direta ou diretamente com oito de onze composições realizadas, se bem me lembro, no primeiro semestre de 2011 e denominado Belaventura. Pode ser então, que seja o conjunto de caráter mais gregário até hoje de forma que, à época, cogitei tornar esse o nome de um coletivo musical... mais um esboço embrionário nesse cemitério das vontades. Das três composições sozinho, Meio-dia foi a mais "simples" e praticamente sem raízes. Aos meus vinte e um anos andava pelo centro de Arujá. Aquelas tardes de sol à pino e, na praça, um homem jazia com uma garrafa de cachaça ao lado. Por vezes me paira a vontade de perguntar a essas figuras qual sua trajetória, por outras, me recolho em meu silêncio e pequenez. Afinal, que teria eu na manga para replicar o que quer que fosse? Imaginei que o homem tinha vendido o céu. O lado mais difícil foi, sem qualquer gravador, permanecer com a melodia na cabeça até o fim do expediente.
          Vendo hoje o verso "um carrossel de sonhos" me pergunto se eu já havia começado a assistir MadMen. Suponho que sim. Conjugar o "inconsolado" certamente partiu do apreço por El Desdichado II de Lobão. Hoje sou ruína do que em mim transborda é um verso que me apraz pelo que pode carregar em si. Mesmo o mais terno dos sentimentos em demasia pode ser propulsor de males.

Meio-dia (2011)

Vendi o céu para alguém
Que não pagou
E que será de mim?
Um carrossel de sonhos
Naufragou
Por isso eu venho aqui
Nas águas da fonte se esconde
A inconsolação:
Um certo medo de a vida
Ser pura abstração

No banco da praça
A velha cachaça
E hoje sou ruína
Do que em mim transborda

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