domingo, 31 de dezembro de 2017

Victor & Leo - 25 Anos de Sucessos

"Beleza, juventude e vozes bonitas, que não agridem e penetram em espirais delicados em nossos ouvidos. Ouvindo Victor e Leo ninguém se sente abandonado nem constrangido porque a sensação é boa para todos. Nada é feio. (...) Percebo também um certo “espírito de Gonzagão” que ronda deliciosamente muitas das canções da dupla. Estão ali a estrada, o sertão, o fogão rústico, a lagoa e sempre alguém a esperar. (...) Victor e Leo é pra quem está de bem com a vida ou para quem está querendo chegar lá. “Boa Sorte Pra Você” é para as novas gerações de brasileiros que buscam os valores que definirão a estética dos próximos muitos anos.
Canções de felicidade são e sempre serão o melhor caminho."  Excertos do texto de Renato Teixeira sobre o álbum Boa Sorte Pra Você, 04/11/2010
Victor & Leo (foto da página oficial da dupla no Facebook)
          Se o texto passado ( Amor Infinito) falava de uma canção inspirada num personagem do livro No Colo dos Anjos de Leo Chaves, nada melhor que falar um pouco do show que permitiu que eu conhecesse o livro. Sem mais delongas:
         Qual a melhor forma para começar um show comemorativo que usar o material novo? Foi assim que a dupla Victor & Leo iniciaram o primeiro de dois shows realizados no Citibank Hall. A introdução instrumental, presente até em dvds da dupla, colocou o público em expectativa até surgirem os primeiros acordes de Senhorita, lançada em maio de 2017, e a maior parte da platéia passou a cantar na mesma energia nas canções seguintes. Com uma letra que se passa na imaginação do eu-lírico é interessante como a faixa mantém o clima 'pra cima'. Hoje não há como usar a palavra senhorita sem imitar a letra, ao menos no meu caso.
         A balada de Marcelo Martins e Sérgio Porto, Na Linha do Tempo, veio em seguida. Seu título caberia muito bem para essa nova tour. Há algo no arranjo dela que remete a Where is the Love? Sucesso do Black Eyed Peas de 2003. Com Fotos, a banda salta para 2007 e em seguida está em 2009 com Não Mais. Ainda que existam diferenças de direcionamento nos álbuns de estúdio, as composições da dupla transitam entre si tranquilamente, um atestado de sua  assinatura musical. De seu terceiro DVD ao vivo vem as canções seguintes: Quando Você Some e Não me Perdoei. Sempre me perguntei se Victor compôs a primeira tendo em mente que a gravaria com Zezé de Camargo e Luciano, afinal, a canção Dou a Vida por Um Beijo tem em seus versos "morro de saudades quando você some". A segunda teve um dos bons solos de guitarra na apresentação.

        As canções seguintes Nada Normal, O Jogo da Vida, Não Precisa (que em 2011 fez parte da trilha sonora da novela Morde e Assopra) trouxeram atmosfera próxima à do primeiro álbum ao vivo. Leo aproveitou Lembranças de Amor para cantar um refrão com a letra em espanhol como lançada em 2009. Sob os acordes introdutórios de Meu Eu em Você, Leo cumprimentou o público expressando sua gratidão pelo momento especial. "Obrigado São Paulo! Cantem, dancem. Quebrem tudo, no bom sentido.". A apresentação contava então pouco mais de meia hora. A maior parte dos álbuns de estúdio da dupla tem a duração de cerca de quarenta minutos. Dessa maneira era como ter ouvido um CD inteiro.
         Na tradição de coveres de canções de fora do universo sertanejo a dupla tocou Só Hoje, uma das mais famosas baladas da Jota Quest. As composições seguintes foram de Na Luz do Som: O Beijo que Eu Mais Quis tem um arranjo que remete ao acústico presente em Razão do Meu Astral. A letra carregando uma terna declaração de amor, retratando um eu-lírico tão tocado pelo sentimento real que pensa ser uma ilusão. A faixa que leva o nome do álbum e é seu segundo single tem um grande trabalho de guitarras e seus versos "na luz do som da sua voz/ em paz meu coração se vê/ a noite vem na escuridão/ de não ter você aqui outra vez" são um ótimo exemplo da sensibilidade artística da dupla para traduzir situações complexas sem pesar no drama. Isso também é percebido no medley de Boa Sorte pra Você e Ao Vivo e em Cores. Quando tocam um pequeno trecho de Tem que Ser Você há a comoção da platéia que tem o prazer de poder cantar junto com os ídolos, como quando tocam Fada. Logo depois, Leo saca seu smartphone perguntando se pode gravar um vídeo - claro que ninguém se opôs. Essa dinâmica de instagramar instantes permite uma identificação do público com os artistas num momento divertido do show.
         O Granfino e o Caipira surge no repertório em versão reduzida o que é uma pena por conta da narrativa da letra que vai evoluindo uma história. A seguir vem Anunciação, de Alceu Valença, num trecho do show capaz de transportar a todos para a atmosfera dos bares. Começando com Boteco de Esquina e seus "causos" sobre a vida de quem canta na noite e tem em sua letra a melhor deixa para trazer a canção seguinte: "Desligamos o som eram cinco pras seis, e um bebum pediu Fio de Cabelo outra vez. Vamô atender! Quando a gente ama qualquer coisa serve para relembrar." Depois da parceria de José Marciano e Darci Rossi vem os sucessos Telefone Mudo, 60 Dias Apaixonado e então Estrada da Vida de Milionário e José Rico. Outra homenagem da dupla às suas referências é com Tocando em Frente, de Almir Sater e Renato Teixeira. Curiosamente essa canção foi gravada por Gal Costa também quando ela comemorava vinte e cinco anos de carreira em 1990.
        Belo blues em homenagem à cidade em que cresceram (Abre-Campo, MG) Momentos traz uma bela mensagem para reflexão. Quando pesquisamos acerca das diferenças entre a música caipira e a sertaneja, a falta de variação temática da segunda sempre surge como um de seus pontos fracos. Por toda obra de Victor & Leo se pode perceber que vão além do "pop romântico". Várias de suas composições como Deus e Eu no Sertão, Vida Boa, Vou pra Roça, Lem Casa, Sem Trânsito, Sem Avião, Tudo Bem e, mais recentemente, Valsa do Vento tratam de temas rurais e existenciais sempre com qualidade. Falando em qualidade, ela já era perceptível para críticos de música, como nesse excerto do texto de Marcus Vinicius do Blognejo em outubro de 2008:
"As maiores críticas dos profissionais da música contra os sertanejos giram em torno das características mercadológicas do estilo. Nos anos 90, a música sertaneja era feita para dar dinheiro, acima de tudo. Qualidade não era o principal objetivo, apesar do talento dos cantores, que era fenomenal. O diferencial de Victor & Leo é o fato de que eles não fazem músicas boas para serem sucesso, mas são sucesso porque fizeram músicas boas."
      A divulgação recente da composição Cantor do Sertão segue a linha bucólica e aumenta a expectativa para o DVD de mesmo nome que tem previsão de lançamento para 2018. A assinatura musical da dupla permanece seja quando agregam elementos de reggae, rock ou eletrônica em sua música. Entre Deus e Eu no Sertão e Vida Boa, Victor assumiu o microfone para falar do período turbulento vivido no primeiro semestre e como foi acolhido por amigos próximos na travessia.
         O segundo blues da noite veio em outra composição do álbum mais recente: Louco por Você, que além de contar com mais um solo de guitarra inspirado tem em sua letra uma bela descrição de alguém apaixonado a ver seu amor dormindo. "E então você solta aquele sorriso seu/ se desperta pra mim/ E quem começa a sonhar/ Sou eu". O último cover da noite é o sucesso da dupla goiana Chrystian e Ralf: Nova York. Com direito a uma jam instrumental e Leo surgindo de chapéu para a interpretação enquanto o caminhão da letra era projetado no telão ao fundo. A parceria de Leo e Marcelo Martins, 10 Minutos Longe de Você vem e faz pensar se um show sem mesas não seria mais propício para as faixas mais dançantes. Apesar do número de execuções no decorrer dos anos, um de seus primeiros sucessos continua gostoso de ouvir, Amigo Apaixonado antecede a faixa de abertura do álbum Viva por Mim: Tudo com Você.
         Em meio às guitarras da introdução, Leo agradece ao Citibank Hall e à Gazeta FM , que divulgou o show em promoções, e seguiu apresentando a banda de apoio que recebeu os aplausos da platéia calorosa. Nas guitarras, Beto Rosa. Alexandre de Jesus na percussão. Thiago Correia no contrabaixo. Teclados e Sanfona, André Henriques e Jander Paiva, respectivamente e na bateria André Campagnani. O grupo acompanha a dupla há anos e dão o suporte essencial para os arranjos. Fechando a noite, uma das canções mais emblemáticas da dupla: Borboletas. Música que, entre outros feitos, recebeu o Prêmio Musica Digital na categoria música pop mais vendida. Ganhou uma versão da banda holandesa Kim e foi a cifra mais buscada nos vinte e um anos do site de música Cifraclub. O que demonstra o grande número de pessoas interessadas em aprender à tocá-la.
         Esse foi um ótimo show, a dupla passou por sua discografia, apresentou canções do novo trabalho, homenageou influências e ainda deixou dezenas de sucessos de fora. Tocar mais de trinta músicas em duas horas e ainda deixar um gosto de quero mais não é para qualquer um.

A arte de Victor & Leo e eu:

        Os irmãos criados em Abre-Campo (MG) estão unidos em música há um quarto de século. Embora, eu os tenha conhecido há dez anos. Em 2007 eu trabalhava numa banca de doces no terminal rodoviário de Arujá, com o ponto embaixo da caixa de som da loja de cds. Por conta disso os dias eram passados a ouvir as escolhas dos funcionários dela. Muitas das vezes o álbum Em Foco de Amado Batista, O Forró Cintura de mola. Mesmo o álbum Lovy Metal vol. II dificilmente era tocado além das primeiras faixas (Is this love? e Wind of Change). O álbum que era tocado na íntegra, era o primeiro Ao Vivo que havia sido relançado pela Sony BMG à época. 
         É importante salientar isso justamente por Victor & Leo ser um ponto fora da curva em minha apreciação musical. Naquele mesmo ano, haviam lançamentos de bandas que eu já ouvia como Capital Inicial (Eu Nunca Disse Adeus) e Engenheiros do Hawaii (Acústico Novos Horizontes) e também álbuns de artistas que eu passaria a acompanhar: Lobão (Acústico MTV), Nação Zumbi (Bossa Nostra) e Vanguart (o primeiro álbum, homônimo). A música sertaneja nunca fora foco de uma apreciação contínua. Haviam, sim, canções de Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, Edson e Hudson que eu conhecia. No ensino médio uma das canções que os colegas cantavam com maior empolgação nas rodas de violão era Deixa (Bruno e Marrone). A proximidade com canções caipiras, mais próximas à raiz, era feita apenas ao assistir programas como o de Raul Gil e o Viola, Minha Viola. Dessa forma, meu maior referencial sempre foi a matriz romântica do estilo.
         O site oficial descreve os irmãos como uma dupla folk brasileira, com um estilo que mescla música sertaneja de raiz, pop e rock. Essa união provavelmente foi o que chamou atenção, unida a enorme carga autoral presente em seus álbuns. Depois do lançamento de
Borboletas - ainda hoje um de meus álbuns prediletos - tive certeza de que eram uma referência musical para mim. Além de servirem como porta de entrada para um estilo musical que carrega muito preconceito pela associação estigmatizada do termo caipira. No talento de ambos reside a universalidade da música e isso é inspirador.

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